segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Neve caia...



A  neve caia... fina, às vezes sacudida por algumas rajadas de vento, aos poucos a rua tornava-se branca... Vagarosamente branca. Era um fim de tarde de um inverno rigoroso... --- ela sabia--- estava acostumada com os invernos rigorosos de Antler, uma cidade do interior de Dakota do Norte, na fronteira  com o Canadá...
Seu olhar se perdia...transpassava os vidros sujos da janela...via a neve...os passantes pareciam os mesmos, arredios, acelerados, fugiam do frio, correndo para as lareiras de suas casas, ou para o aconchego de um abraço caloroso... Hoje sua vida parecia determinada, sentiu um pouco de constrangimento...contrariou-se... os anos para ela passaram rápido desde o acontecido... subiu-lhe um calafrio ao lembrar e logo retornou a admirar a paisagem interiorana, já não tão agressiva aos seus olhos...acostumou-se  a  essa vida simples... a essa cidade.
Vez em quando passava a mão na vidraça para tirar-lhe o vapor impregnado... estava frio... muito frio --- minha vida... --- pensava ela tentando ao menos fixar uma resposta ao que hoje estava ocorrendo... seu olhar era calmo, estranho , um tanto gélido ...não sei se acompanhava o dia de hoje, mas se assemelhava... Vez por outra ia a lareira colocar mais alguns pedaços de madeira; seu atual marido sempre se esquecia de renovar a estocagem para o inverno, isso sempre a irritou, mas não dava tanta ênfase no que pensava, principalmente hoje... somente queria de certa forma aliviar a consciência e tentar renovar sua vida e não mais fugir de seu passado...
Tentou não insistir nessas lembranças... eram fortes; tentava para si, diminuir, explicar o que ocorreu...convencera-se de sua inocência; esse sentimento aquecia-lhe as têmporas...não existia lágrimas...nem arrependimento --- Ele era um... --- não pronunciou o resto engoliu com um rancor ainda vivo... bufou e voltou o seu olhar para a sala ---  ela era uma mulher  requintada, a sala também deveria ser assim; olhava cada móvel, pensou ser uma boa dona de casa... os móveis em madeira chinesa, polidos e bem adornados, era uma sala com um ar aristocrático... --- Em seu aniversário de casamento ganhou um lustre de cristal vindos da antiga Áustria --- comprado numa loja de antiguidades --- Motier Glickstein compro-o para ela, sua esposa; fazia os gostos da sua mulher, queria ao menos compensar o tempo que passava longe dela; era dono de uma imobiliária local, não muito expressiva...
***
Manhã, um dia antes... ---  Mal acordara para o café e, logo bateram a sua porta, tocaram a campainha, deixaram um envelope... Rachel Glickstein desceu as escadas rapidamente, logo o viu perto da porta... abriu-a rapidamente para ver quem haveria de tê-lo deixado àquelas horas... o envelope não tinha remetente...abriu-o...foi devastador... eram fotos de Motier com Amy Duprè... ela a conheceu em uma festa de noivado de um dos  funcionários da imobiliária... a achou um pouco recalcada e inexpressiva, mas a  admirou pela beleza incontestável... --- Amy tinha olhos negros vívidos, o corpo era esguio, uma perfeita francesa...Rachel olhou àquelas fotos, seu corpo não suportou tal impacto, veio quase a desfalecer,mas se esforçou e segurou na porta, ela desceu vagarosamente e ajoelhou-se...as lágrimas rolaram...passou tempo ali até recobrar-se... --- novamente não! --- pensou ela --- ... um ódio adormecido correu-lhe o sangue... o seu passado veio a tona com a força que o caracterizava...

*** *** ***

Primavera, 1954, Connie Howard, levantava-se às cinco da manhã, trabalhava em uma lanchonete no condado de kerr ,Texas; sua vida mantinha-se sempre numa rotina, esperava que o destino pudesse dar a  ela  um desfecho mais... Ela era sonhadora como qualquer mulher que gosta de requintes, mimos... Em uma das tardes desse mesmo ano  Dennis Selwey entrou na lanchonete... muito apressado teria que passar em Austin e  posteriormente em Dallas, seus negócios iam bem por sinalEra um bom empresário no ramo da siderurgia, e estava no Texas para tentar comprar uma propriedade com grande concentração de carvão mineral... Sentou-se à mesa e pediu um café expresso e leite, não se ocuparia em mastigar alguma coisa, a gastrite pegou-lhe logo pela manhã... --- ele estava ocupado com o que iria fazer, seu olhar distante denunciava que seria uma compra difícil, já havia conversado com o dono das terras... a garçonete veio lhe servir --- seu olhar foi de encontro ao dela --- no nervosismo nem se apercebeu que o café havia transbordado, Selwey segurou a mão de Connie tentando evitar um desastre maior... ele percebeu que a havia enrubescido --- Connie era uma mulher alta, os olhos castanhos denunciavam a sua meiguice, os lábios grossos expressivos, um sorriso largo, os cabelos tinham um tom castanho claro e enrolavam nas pontas... Selwey parou e fixou seu olhar no dela, ali mesmo ele decidiu não mais fugir...
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Do namoro ao noivado foram alguns meses, para o casamento... três anos, Selwey viajava muito, os negócios cresciam vertiginosamente, eram perfeitos um para o outro --- eles sentiam-se assim --- ela saiu de seu emprego...foram para Ohio, a vida de casados ia bem. Saiam juntos , se divertiam como um casal normal....---  a descoberta na convivência nos mostra a face oculta das pessoas...
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Já se passaram uns bons anos de casados... as discussões aumentaram, a tristeza no semblante de Connie era patente... nunca fora agredida por homem algum... Onde estava aquele a quem ela entregara seu coração!--- pensou e chorou copiosamente. Selwey parecia ainda mais arredio com Connie, sua rispidez e arrogância se mostravam em  devastadoras faces... Connie arrependeu-se! --- Seu castelo de sonhos desmoronou diante de si na rapidez com que seus desejos iam se realizando...mas ela ia percebendo na ilusão que caíra --- culpada pelo amor que sempre oferecera? Estava abatida, sempre depressiva... não andava mais nas festas ricas em que  Selwey era convidado, ele  se distanciava ainda mais... o clima soturno na casa onde moravam aumentava , tratavam-se como dois estranhos --- seria essa a perfeição que Connie tanto desejara? O rancor apertava-lhe o peito... Selwey estava traindo-a com outras? Connie sentia que sim...
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 Julho de... Selwey estava decidido a dar um fim ao seu casamento, ele já não reconhecia a mulher com quem casara,  Connie com  imaturidade e ciúmes que a caracterizavam  minaram pouco a pouco o amor que sentira no instante que a viu...
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Noite... Chegou em casa às pressas... levava na mão o divórcio... Dennis Selwey passou pela sala e foi ao encontro de Connie Howard... Selwey entregou para Connie a papelada do divorcio, Connie de pronto recusou a assinar, não iria fazer esta loucura... Connie revoltou-se e começou a gritar com Dennis, este não reagiu, somente esperou que a raiva passasse e poderiam conversar melhor, mas Connie não esperava que Dennis pudesse...
Ela correu para a o escritório --- onde está...? --- vociferou, vasculhou nas prateleiras e encontrou-o em uma das partes da estante. Dennis entrou rápido ao escritório e Connie lhe apontava uma arma... --- você está me traindo! Gritou Connie, Selwey tentou persuadi-la... --- mas não adiantava, o ódio...*** --- você é que me traiu sua... Dennis foi de encontro a Connie.... um disparo... Selwey levou um tiro na altura do coração...
*** 
Connie Howard não foi mais vista...

*** *** ***
Rachel estava apaixonada e não pensava que o amor pudesse existir dessa forma, há muito não se sentia assim... Motier e Rachel conheceram-se em um dos estandes de vendas de imóveis em Denver, eles foram apresentados por um amigo em comum, Motier com seu sorriso alegre e de jeito despojado conquistou de pronto o coração de Rachel Macmillan...
 ***
... o ar condensado da respiração de Motier formava uma pequena nevoa à sua frente... os passos iam lentos, era tarde da noite, já não mais se avistava alguém, a rua quase estava deserta, a não ser por um homem que estava sentado ao longe com um charuto aceso, talvez disfarçando o frio... a luminosidade branco-ofuscada dos postes criada pelo cair da neve --- que ainda insistia ... ---dava um ar sombrio àquelas ruas... todos em casa já com suas lareiras acesas, resmungava, mas logo estaria em casa  --- este trajeto ele fazia sempre quando saia do seu escritório --- gostava sempre de ir a pé, sentia-se aliviado do stress das viagens,  quando chegava em casa era outro homem...  Noite, inverno de 1964, o coração de Rachel acelerou ao vê-lo dobrar a esquina....  a neve estava caindo forte--- seria uma noite... ---  Rachel preparou o jantar como sempre, mas hoje ele estava mais atraente ao paladar, a mesa já estava posta, ela o aguardava da janela de seu quarto no piso superior... a sala era iluminada pelas chamas da  lareira, refletiam-se  nos móveis  quase um vermelho cobre, as sombras dominavam a sala...
***
... a campainha tocou, ela ouviu Motier pronunciar seu nome --- Rachel está frio! ---  Ela desceu as escadas  vagarosamente como se não quisesse encontrar aquele rosto... --- onde estaria ele àquelas horas? --- lembrou das fotos que lhe jogaram porta à dentro --- Aquelas fotos comprovariam a traição? Seriam suficientes? --- ela não conseguia assimilar, seus sentimentos entorpeciam sua razão, abriu a porta, recebeu-o de forma normal...--- sempre o recebera com um beijo na face...--- Motier adentrou, tirou seu casaco e colocou-o atrás da porta, olhou para Rachel, algo de estranho tinha nesse olhar... não quis fazer nenhum comentário...estava cansado , a viagem fora desalentadora, não havia conseguido fechar negocio...
 Rachel mandou-o tomar um banho morno e descansar, logo iriam fazer a ceia... sentou-se à mesa, aguardava-o... seus pensamentos tomavam forma e dava-lhe a sensação de traída em seus sentimentos ---  isso ela não suportava, tentou  acalmar-se --- o destino estaria sendo justo com ela? Seus porquês criaram uma revolta... o envelope estava sobre a mesa ...as fotos... seria possível Rachel esquecê-las? Suportaria uma possível traição de Motier? Algo lhe rasgava  a garganta... Motier desce as escadas, olha-lhe e sorri, Rachel responde de forma automática... havia um silêncio... ouvia-se somente o barulho dos talheres... Rachel perguntou a Motier se ele a amava... Motier estranhou a pergunta--- sim, eu te amo Rachel, respondeu prontamente...
***
Rachel jogou as fotos em Motier --- Então, como você explica essas fotos?! --- Motier colocou-se de forma séria --- Amy é somente uma cliente e queria minha opinião sobre qual a melhor casa a comprar... --- Rachel não se contentou com tal explicação... --- Eu não sou suficiente para você?--- indagou-o  rispidamente, ele não esboçou reação alguma, continuou a jantar; ele  ignorava-a  sempre quando ela gritava e não dialogava como uma adulta...*** A raiva dominou-a...--- ela teve esses acessos de raiva quando uma vez Motier não aceitou levá-la em uma de suas viagens para Florida... estranho  comportamento, que de certa forma parecia ser um transtorno psicológico; muitas vezes Motier a encontrara chorando... Depressiva?! Quem sabe... ---   *** Rachel estava próxima a Motier quando tomou-lhe a faca...
*** *** ***
Jimmy Hatfull nunca esquecera a sua paixão pela garçonete... criou-se nessa cidade onde conhecera seu primeiro amor... Teve uma vida difícil, trabalhava na fazenda de seu pai --- Sr. Hatfull ---  Sr. Hatfull criou seu filho como um de seus animais... Jimmy crescera com muitos traumas de infância, sua mãe morrera no parto quando ele nascera... seu pai sempre jogara isso em sua cara... Sr. Hatfull tornou-se alcoólatra após a morte da Sra. Hatfull --- Amanda Chapman --- os maus-tratos ao pequeno Jimmy tornaram corriqueiros, foi criado na rejeição de seu pai...
A sua paixão por Connie era sabida por todos, namoraram por um período, mas os ciúmes violentos demonstrados por Jimmy a fez separar-se dele, a separação nunca foi aceita... Jimmy pedia sempre que lhe desse uma nova oportunidade, porém as recusas de Connie o tornaram mais agressivo... passou a segui-la, a observá-la, com quem se relacionava, para onde ia... --- Essa obsessão por Connie não permitia uma vida normal nem para ela, nem ele...
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... a faca foi cravada em seu pescoço com tal força que trespassou a traquéia , a carótida foi rasgada e o sangue jorrou quente por entre os dedos de Motier... sua voz se perdeu num engolfamento de sangue... seus olhos estáticos para Rachel não acreditavam no que estava ocorrendo... sua morte era iminente ... seu cérebro perdia rapidamente oxigênio... caiu no chão, seu sangue espalhou-se no assoalho de madeira... Rachel Glickstein gritou --- o que foi que fiz!--- não,não.... seu senso perdia-se no trauma de ver a morte de seu marido, morto por ela... no desespero gritou o nome de Dennis Selwey ---  não morra Dennis, não morra... eu te amo... te amo--- .... ali morrera Motier... Connie recostou sua cabeça no peito de Motier... seu pranto não aliviaria...nem tornaria de volta seu...---- Seu passado ...
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 ... Jimmy disparou contra Selwey e o matou... os ciúmes o tornaram assassino, Connie estava tendo um caso com ele, Selwey havia descoberto...Jimmy nunca aceitou separar-se de Connie... mesmo assim Connie cedeu as investidas de Jimmy--- saudades?!---  Ele encontrou Connie em Denver,  a observou de longe não quis ser reconhecido... meses depois saberia onde Rachel morava.... Seguiu Motier, e tirou fotos dele com Amy... e as colocou por baixo da porta... Jimmy induzira Connie a matar Motier?
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Jimmy apagou seu charuto e desceu a rua, a noite estava fria... tentava aquecer as mãos, esfregando-as... o ar de sua respiração condensava-se rápido, já aproximava-se de zero hora...Jimmy atravessou a rua e direcionou-se a outra calçada, a casa estava próxima... o silêncio frio daquela rua causava-lhe calafrios...--- valeria tudo pelo amor de Connie?--- nunca pudera dar o que ela exigia... --- Olha onde estou?! --- Falou consigo mesmo --- ... não tem mais volta...
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Jimmy encontrou Rachel recostada sobre o peito de Motier... Ela levantou-se , não pareceu surpresa com Jimmy ali parado a olhá-la, beijou-o profundamente--- Jimmy não esboçou nenhuma reação ao que estava presenciando... --- amavam-se?!--- Rachel foi ao cofre, esvaziou-o... estava fugindo novamente com o seu real amor? --- Jimmy e Connie desejavam-se loucamente... e os desejos matam...
***
 Rachel deixou o corpo frio de seu marido ali... estendido...
***
A neve caia...     




sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Varanda...



Vejo o sol a surgir no horizonte... A varanda me parece outra, percebo... Vejo-a diferente, mais terna, mais viva, meu abrigo nos momentos de tristeza, minha paz... O sol está despontando no horizonte, os raios iluminam os olhos dela, e eles refletem em mim tudo que a vida nos deu — me concedeu....ela---... Mesmo nos momentos difíceis, estávamos ali, juntos, entrelaçados... Mãos... Olhos nos olhos, face a face, e sempre nos abraçamos como se fosse a última vez... sempre... abraços... ternura...*** ...Estamos na varanda...o ar nos recupera as forças já desgastadas pelo tempo... minhas mãos entrelaçadas as dela... Seguro-as... Fortes... Seguro-a...
***
Sei que dificuldades tivemos ao longo da vida, mas sempre superado com o que temos de mais forte ... Amor... --- suspiro profundamente como se os raios a nos iluminar me percorressem as fibras... Abraço-a fortemente... Silencio *** ela simplesmente me olha com aquele mesmo  olhar de antes... --- como se a entender meus pensamentos ---  muito amor...muito... é algo que transcende. Perco-me no seu olhar, no seu sorriso , na sua meiguice... cativo-me mais... Faz-me amar ainda mais... a varanda tem essa magia, não sei se o conjunto... sol... mar... e ela--- minha eterna amada, Angélica --- se anjo no nome, ainda mais na alma...*** lembrou-me  Gregório...*** eu sempre... Declamei para ela o poema Angélica. Tenho-o guardado em meu coração... Sempre --- Angélica, és flor e anjo florente, deslumbra-me ainda mais... recito-o em meus pensamentos... Aperto-lhe as mãos com segurança, força...sol...poema...
Anjo no nome, Angélica na cara.
Isso é ser flor, e Anjo juntamente,
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
em quem, senão em vós se uniformara?
Quem vira tal flor, que a não cortara
Do verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
Se como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu custódio, e minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

***
Ah! O tempo... Já passamos por quase tudo nesta vida --- aprender --- nos fez ainda mais... Como se fôssemos um... Olhos nos olhos... Neste dia mágico...*** voltamos nossa atenção para o nascer do sol como a nos dizer, que tudo passa tudo renasce...*** Angélica!--- Pronunciei baixo --- mas bem perto ao ouvido... Tinha carinho, muito carinho... --- a vida nos foi abençoada, gratificante, a felicidade foi conquistada, construída dia após dia... --- ela com um aceno de cabeça e um sorriso afirmativo... Os grisalhos significavam experiência, maturidade.
***
Angélica! --- envelhecer ao teu lado foi uma dádiva, meu amor por ti ainda é chama, é forte, tranqüilo, eterno... Como antes ---... Filhos... Hoje já temos netos, a vida é bela! *** O tempo... Ah! O tempo... Não precisaria voltar se pudesse; já tenho a quem amar, já tem quem me ama... Estou pleno, completo... Posso seguir contigo... Juntos... Abraço-a forte novamente... Beijo-lhe o rosto... O sol avança em seu destino eterno; Eu... No meu amor eterno...*** a idade nos fez mais fortes, menos hipócritas, menos rancorosos... Aprendemos juntos, a sermos mais... --- beijo-lhe os lábios... Olhos nos olhos... Ainda somos nós... O amor...............................
*** 
A varanda... Antes tristeza, hoje alegria... O vento nos toca a face, o sol nos fortalece... ela recosta-se em meu peito... Abraço-a forte... Começamos num olhar e terminaremos num olhar... Amo-te mais e mais... Angélica...
***
Destino... Encontrei-te amor... Encontramo-nos!
***
Sol. Mar. Varanda... Nós... Amo-te... Meu amor eterno!



quinta-feira, 24 de setembro de 2009

...À minha Amanda...





As escadas... Eu ainda escuto os passos... Desço as escadas lentamente e lembro-me de cada momento... Fecho meus olhos, cerro meus lábios, e... Respiro profundamente... Angústia... Saudades...
 ***
Lembro-me das tuas tagarelices nas tardes de domingo, ou dos teus desatinos ao sonhar alto... Ou quando toda manhã me acordava para o café com voz tão suave... Teus dedos deslizavam em meus cabelos... Pronunciava... --- ah! Porque me martirizo com tamanha lembrança! --- te amo... Por que ainda te amo... Por quê... Minha vida seria melhor em ter você por perto --- ou quando às vezes tínhamos discussões tão pueris... --- o quê mais acontecerá comigo! --- sinto falta de teus abraços a me receber; eu ainda os sinto, fortes, calorosos... Amadureci junto contigo, aprendi a Amar de forma incondicional; Amor tal, que não cabe em mim e transborda em fonte... Jamais te esquecerei... Nem o brilho em teus olhos--- marcam, ainda, minhas lembranças--- nem teus carinhos em meus momentos de tristeza, nem tua voz--minha alegria roubada--- que alegrava esta casa, hoje tão triste e sem vida; dói-me não mais ouvir teus passos ao subir estas escadas e pronunciar... Papai!...
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                Ouço um estampido que vinha do escritório... Marta vai à frente, já apreensiva... Estávamos aflitos, Marta... Chorosa... Empurra a porta do escritório... Entramos... Viriato! Grita Marta, não...não.......Não! Viriato!... Por que meu amor, Por que... ---- corri de encontro a meu irmão, estendido naquele tapete, vermelho, já não mais pulsava... Meu peito apertou----Marta, minha cunhada, estava inconsolável... Vê-lo naquele estado... Estendido... Chão... Choro. Sobre a mesa uma Carta...
                 ***
                Eu ainda guardo àquela Carta de meu irmão como memória de seus últimos instantes... Suicidou-se, simplesmente se suicidou, não suportou a perda da filha... Morreu três dias depois do assassinato de Amanda... No cabeçalho da Carta dizia... À minha Filha Amanda, minha vida........................................................Adeus!
               
               






sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Cabana


10


Era verão... o amanhecer cintilava por entre as frestas da janela, levanto-me... As lembranças me deixam um pouco zonzo... E as dores... Ah! As dores, estas percorrem meu corpo como se ainda as feridas estivessem abertas, e isto me causa náuseas... É verão. Tento novamente me reerguer para mais uma jornada... Não tenho muitas escolhas, a não ser viver. Atravesso a sala-- frente à lareira... fotos...imagens...saudades, as dores são tantas... Passos firmes. . Deixo a cabana para trás, saudades? Não as guardo, nem as lembranças, nem as... Não...Não olho para trás-- o ar daquela floresta... já o sinto distanciar-se... a cabana já não mais me incomoda, vejo-a pequena como nada tivesse acontecido, acode-me um sentimento de perca... a porta...deixei-a entre aberta ,como a esperá-la... um retorno, quem sabe uma última despedida, um último adeus...não...não tive eu tempo...arrependo-me... Ah! meu Deus, como me arrependo. Deveria ter sido eu ....eu, naquela noite.
***
Arrasto-me... os passos vacilam...vou de encontro ao abismo de mim mesmo.*** Não...não quero mais lembrar.*** Sufoca-me tudo,todos... ***Naquela noite chuvosa, março, dezesseis. Vinha eu dirigindo um pouco sonolento, não havia descansado o suficiente para pegar a estrada-- havíamos discutido feio na noite anterior sobre nossa viajem--planejamos esse momento há meses, mas tive de fazer uma viagem dois dias antes, a serviço. Cheguei atrasado como sempre, arrumamos às pressas as malas. Partimos.
***
A noite estava gélida. O silencio no carro era constrangedor, somente uns olhares furtivos, e as luzes dos carros que se refletiam no olhar dela -- eu a amava — fazia-me perceber que a vida valia ser vivida intensamente. Iríamos para o chalé que compramos para os nossos fins de semana, chamávamos de cabana, nome carinhoso e que remetia a um bucolismo, isso nos volvia a um tempo de infância, infância em comum que tivemos, éramos amigos desde os meus seis anos, crescemos e estudamos juntos, o amor surgiu naturalmente... Não foi mágica ou algo milagroso, foi somente amor, surgido da amizade. Nasceu das nossas brincadeiras no antigo lago que havia no sítio de meu avô. Éramos vizinhos... Parece que tudo direcionava para nós... Para sermos nós... Ela estava ali... junto a mim naquela noite, eu a olhava como se intui-se o que ocorreria momentos depois, meu coração apertou, apertou...Num relance, luzes velozes a nossa frente, rápidas se aproximavam, num susto virei a direção para não ser uma colisão frontal, mas o carro capotou....voltas, voltas no ar... fiquei desacordado por instantes, mas aquela cena não sai mais de mim, vê-la desacordada... tento mover-me, forço a tal ponto que consigo  sair do sinto que me prendia. Ela foi jogada para fora do carro, rastejo-me até ela, ela estava ofegante...tateei o meu bolso na procura do celular... Ligo... Grito ajuda, mas já era tarde, ela m...... me apavorei, tentei de todas as formas salvá-la, seus olhos ainda estavam entreabertos, brilhavam ainda, como... como se estivessem a se despedir de mim... Não, ela não disse nada, somente suspirou... Naquela mesma noite morri, morri com ela, ali em meus braços. As lágrimas que escorriam de minha face caiam...caiam no... rosto... dela...e iam de encontro a seus lábios... os beijei, eu os beijei pela última vez... balbuciei “te amo!”, não tive forças para gritar...

***
Luzes... Hospital... Tristeza.
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Deixo à cabana, arrasto-me...os passos vacilam ,vou de encontro ao carro, é verão. Finjo não ter saudades, mas... Suspiro, a angústia, a falta me doem, olho eu para trás, vejo a cabana... minha vida...
 
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